O que é o urbano e o rural nos dias de hoje? Esta a questão que dominou o último Café com Temas, onde Álvaro Domingues, geógrafo, docente da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, mas também fotógrafo e minhoto (entre uma diversidade de outros rótulos que lhe poderiam ser colados), conversou e provocou a assistência, numa intervenção onde as fotografias que ilustram o seu último livro (Vida no Campo, Dafne Editora), serviram de mote à discussão.
Falando duma mitificação do mundo rural, Álvaro Domingues foi explicando que o rural enquanto cultura está conotado com as chamadas culturais tradicionais, num oposto ao que se pode apelidar de cultura contemporânea, “que é um misto de extremos” e onde se assiste àquilo que apelidou de “deslocamento entre sociedade e território”. Uma situação em que o exemplo mais flagrante serão as relações que os emigrantes têm com o seu local de origem. “Os de Melgaço, hoje em dia, não são apenas os que ali residem”, exemplificou o professor universitário, aludindo à sua própria naturalidade.
Álvaro Domingues lembrou ainda que “o território não é mais que a forma de organização de uma sociedade”, pelo que, se muda a sociedade, mudará necessariamente o território. Ao mesmo tempo recordou a influência que factores como a oferta de emprego ou a facilidade de acesso têm na captação de população e na evolução do número de habitantes.
Numa sala cheia, como tem acontecido nas últimas edições do Café com Temas, Álvaro Domingues falou ainda da “cenarização do mundo rural”, em que se procede à estetização daquilo que já foi o mundo rural de outros tempos. “Acabou, deixou de funcionar, é fácil estétizá-lo”, explicou, culminando a sua intervenção com a identificação daquilo que apelidou de “paisagens transgénicas”, num cruzamento entre a geografia, a arquitectura e a biologia. “São paisagens que têm um ADN compósito”, onde convivem elementos antigos, modernos, rurais e urbanos.
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