Às vezes leio notícias que me fazem pensar que estou a precisar de óculos. Depois esfrego os olhos e afinal o que li é o mesmo o que está escrito, ainda que não faça sentido algum. Desde quando é que decretar o abate indiscriminado de animais vadios é solução para o que quer que seja? E classificar essa medida de “pedagógica” é não ter qualquer noção do que é pedagogia e mostrar que se opta pela solução mais fácil ao mesmo tempo que se tenta atirar areia para os olhos das pessoas.
É certo que a proliferação de animais em pastoreio livre pelos montes é um problema. E é um problema em Paredes de Coura como noutros concelhos marcados por este tipo de pastoreio. E não deixa de ser verdade que não podem ser as pessoas que nada têm a ver com os animais a arcar com os prejuízos resultantes das suas incursões às zonas cultivadas, quando o alimento lhes falta mais acima. Mas, a solução não passa, não pode passar, pelo simples abate dos animais em causa. É essa, contudo, a solução apontada pela Direcção Geral de Alimentação e Veterinária, que defende o abate dos animais que originem prejuízos e não tenham proprietários.
E o problema reside precisamente aqui. É que esses animais, quase todos, têm proprietário. Um proprietário que opta, porque é livre de o fazer, por deixar os seus animais num regime de pastoreio livre mas que, quando estes não têm alimento e atacam as culturas de outros, ou quando um deles irrompe estrada fora e provoca um acidente de viação, teima em não surgir, em não ser identificado. É este o problema destes animais e todos o sabem, das autoridades aos proprietários das culturas estragadas passando pelos responsáveis da Direcção Geral de Alimentação e Veterinária. Ou seja, o principal problema não estará nos animais, mas sim nos seus donos, os mesmos donos que os procuram quando o objectivo é o lucro, seja com subsídios ou outra coisa, mas que se esquecem deles quando a conta pelos prejuízos causados lhes ameaça vir parar a casa.
E a solução apresentada é o abate? Não seria mais justo, embora, admito, mais difícil, fazer um recenseamento de todos os animais que andam livre a pastar pelos nossos montes? Mas um recenseamento em condições, em que os animais fossem devidamente identificados e marcados (a tecnologia não falta) e que obrigasse os proprietários a aparecer e a identificar os seus animais e impedisse que lucrassem com os que não têm qualquer identificação, mediante uma fiscalização eficaz.
Mas não, as autoridades optam pela via mais fácil, a de apagar as consequências depois dos actos realizados. E depois queixem-se se surgirem mais situações como esta ou esta. Depois queixem-se se houver mais gente a fazer justiça por mão própria. Com um bocado de sorte, ainda se vão queixar ao verdadeiro culpado pelos estragos causados: o dono dos animais.
O
ResponderEliminarpois é !!!! ZERO !!! O tema mete pouca politica!!! e os comentadores de servico nao gostam!!
Eliminar