21 agosto 2008

Meu querido mês de Agosto

Agosto chega ao fim quando ainda faltam duas semanas para o final do mês. Confuso? Eu explico, até porque não se trata de nenhuma teoria revolucionária, antes a constatação de uma realidade que, ano após ano, se repete nas aldeias e vilas portuguesas marcadas pela emigração.
Chega Agosto e com ele os muitos emigrantes que passam o ano a ganhar a vida lá fora, pelas franças e alemanhas desse mundo. A população do concelho quase duplica, garantiram-me num dos primeiros verões que por cá andei. E assim parece. As matrículas dos carros não deixam margem para dúvida e se dúvidas houvesse bastava uma ida a uma qualquer romaria das muitas que pululam por Terras de Coura durante este mês para escutar a mistura de sotaques, o português afrancesado (ou será o francês aportuguesado) e ter a certeza: estamos no mês-rei dos emigrantes.
Mas Agosto chega ao fim, e neste caso o fim de Agosto chega logo após o dia 15. É público e notório que, passado o meio do mês, a presença emigrante diminui sobremaneira. O tempo do mês inteiro de férias já lá vai, que agora são duas, três semanas e toca a andar., Não dá para mais, explicam, com um aperto no coração. É que, acrescentam, aquilo lá fora dá muito dinheiro, mas não é como a nossa terra.
“Lá temos o nosso corpo, aqui o nosso coração”. Assim mesmo, dito desta maneira, por um courense emigrado há mais de 40 anos em França, lá para as bandas de Clermond-Ferrand que encontrei por acaso na sala de espera do dentista e que, mesmo não me conhecendo de lado algum, não hesitou em partilhar comigo a sua alegria por regressar a Portugal, à sua Castanheira, uma vez no ano. “Ai e isto está tão lindo, cada vez mais”, acrescenta, enquanto não chega a sua vez. E fala das estradas que o sr. presidente mandou arranjar para se chegar mais facilmente à vila, mas também dos buracos que deixou por tapar nas ruas de Castanheira e das pedras que podiam ter cortado para alargar as estradas.Fala com o conhecimento de quem está por Coura há pouco mais de duas semanas e todos os dias pega no velho carro que trouxe de França há vários anos e que fica por cá todo o ano, para dar uma voltinha pelo concelho. A descobrir coisas novas todos os dias, garante. Coisas que vê com os olhos de quem tem apenas três semanas para consumir tudo o que o concelho tem para lhe oferecer, para durar mais um ano lá fora, nas recordações. Já passa do dia 15, está na hora de voltar. Só mais um dia e há que se fazer à estrada, com mulher, filho, nora e dois netos. Desejo-lhe boa viagem. E bom regresso no próximo Agosto, para mais um percurso pelas novidades da terra

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