Entrevista a Paulo Castro, presidente da Comissão Política da Secção de Paredes de Coura do Partido Social Democrata. Professor, 43 anos de idade.
MPM - Que balanço faz deste tempo em que está à frente da concelhia de Paredes de Coura?
PC - Estou há dois anos e meio na concelhia. Temos trabalhado no sentido de organizar internamente o partido e temos também discutido o concelho. A militância aumentou quase 200% e começou-se a reerguer a JSD, que estava adormecida desde a altura em que eu fui presidente.
MPM - Quais as principais alterações das últimas eleições para a concelhia, ocorridas já este mês?
PC - As principais alterações foram a introdução do militante José Alberto Rosas Mota na mesa da Assembleia e a substituição do tesoureiro João Venâncio, a seu pedido por motivos de saúde. O novo tesoureiro é Manuel Martins Rodrigues, de Coura. Basicamente, a equipa mantém-se.
MPM - Que balanço faz da actividade desenvolvida pela Câmara de Paredes de Coura neste mandato? O que aprova, com o que é que não concorda, o que teria feito diferente?
PC - Sou muito crítico em relação às opções da Câmara Municipal de Paredes de Coura. Há um enfoque exagerado na cultura e não há intervenção em áreas fundamentais como a economia. A Câmara tem um passivo enorme por causa das dívidas a fornecedores. Acho que se fizessem uma auditoria neste momento à Câmara víamos que existia sobre-endividamento. Em termos económicos, se estivéssemos bem, não haveria esta fuga de habitantes para fora do concelho. Eu sei que não é responsabilidade única da Câmara, mas quando falha de um lado, tem de se fazer do outro. A ligação viária nova não depende da Câmara, mas já a ligação económica, de sempre, com os concelhos vizinhos, que pode resultar na criação de indústrias de suporte, essa depende.
MPM - Qual a sua opinião sobre o trabalho desenvolvido pelos vereadores do PSD?
PC - Estou maioritariamente satisfeito. No início estava preocupado com a instrumentalização do José Augusto, mas afinal não havia problema.
MPM - Como vê as alterações que se projectam em relação às autarquias locais, nomeadamente a extinção de freguesias e as alterações na forma de eleição do presidente da Câmara e vereadores? Concorda com as alterações anunciadas?
PC - Era muito céptico, mas tivemos uma acção de formação que me fez ver que a última remodelação a este nível se verificou há 180 anos. Neste momento temos uma realidade ultrapassada e com estruturas redundantes. Há vários modelos em análise, mas defendo a implementação de aglomerados de freguesias, num modelo com um número de habitantes mais ou menos idêntico em todos os aglomerados, o que daria mais atenção às freguesias periféricas e obrigava a estruturas de ligação mais fortes com a sede de concelho. Se calhar vamos ter de reestruturar toda a lógica da nossa vida e repensar estruturas como creches, escolas, instituições de apoio à terceira idade…
MPM - Acha que as oposições ficarão enfraquecidas neste novo modelo de eleição?
PC - Vamos ter uma estrutura semelhante ao Governo, com a eleição da Assembleia Municipal de onde surgirá a vereação da Câmara. Vamos ter uma Assembleia Municipal subsidiária da Câmara, tornando-se improvável que haja diferença de cor política. Os pequenos partidos desaparecem e a oposição fica com um papel quase nulo. De acordo com Carlos Abreu Amorim, teremos que reforçar os poderes da Assembleia Municipal e criar uma cultura de vigilância nessa instituição, incluindo até poderes de demissão da Câmara, em casos extremos.
MPM - A nível financeiro, mais até do que a nível político, como é que vê o futuro do concelho? Sente que Paredes de Coura tem o futuro hipotecado por largos anos?
PC - Um plano de saneamento financeiro é uma obrigação. É ridículo avançar com mais obras neste cenário. De que vale ter um concelho bem equipado mas sem gente? A Câmara está hipotecada e vamos continuar? Há que consolidar as contas e ter em conta que investimentos terão retorno financeiro, até que as contas estejam equilibradas. Só nesse contexto podemos voltar a uma política de relativas “mãos largas”.
MPM - As próximas eleições autárquicas vão ficar marcadas pelo abandono de Pereira Júnior. Isso poderá representar uma vantagem para o PSD?
PC - Pereira Júnior não será fácil de substituir por parte do Partido Socialista, mas o PS tem uma máquina bem oleada. De qualquer das formas será uma opção difícil dentro daquele partido.
MPM - E o PSD já sabe quem vai lançar na corrida à Câmara de Paredes de Coura?
PC - Já tenho uma pessoa convidada. Estou ainda à espera que aceite ou não e por isso não vou revelar de quem se trata.
MPM - O PS prepara-se para estabelecer uma espécie de primárias nas eleições autárquicas. Se o PSD fizesse o mesmo quem seriam os candidatos?
PC - Em termos logísticos não temos grandes hipóteses de fazer umas primárias, mas compreendo que é uma forma de promover o partido e no PS poderá resolver alguns problemas de indecisão interna ou de luta de galos.
MPM - Neste momento, tanto PS como PSD têm os seus líderes concelhios afastados das lides autárquicas. É fácil manter-se a par da realidade da Câmara e da Assembleia Municipal não tendo participação activa em qualquer destes órgãos?
PC - São funções diferentes. O José Augusto está no executivo da Câmara, o Décio surge como a segunda figura, liderando o grupo da Assembleia Municipal e eu fico em segundo plano, o que neste momento até é conveniente. Nenhum órgão autárquico tem grande voz em termos de opinião pública, o que passa para fora é muito escasso e isso tem a ver com a desmotivação para a política que o país atravessa. A causa pública não é muito sedutora. O trabalho maior desta concelhia será tentar reconciliar os courenses com a política local.