30 novembro 2009

Pouca terra, pouca terra

ponte da a3

De Espanha não vêm boas notícias, com os ventos a anunciarem o adiamento, por mais dois anos, da linha de alta velocidade na Galiza. Por cá, contudo, o processo (ou será o progresso?) está em andamento, com as possibilidades de traçado já em fase de consulta pública até Janeiro próximo.

É a hora de pegar em mapas e cartas topográficas e ver se o que nos propõem não colide com o que está no terreno ou, não menos importante, com o que se projecta para o futuro. O traçado pode ser consultado na Câmara Municipal de Paredes de Coura e nas juntas de freguesia directamente afectadas pela passagem do comboio de alta velocidade. No caso de Paredes de Coura estamos a falar de S. Martinho de Coura, Romarigães e Rubiães.

De acordo os traçados propostos, que podem ser consultados aqui e aqui, o ponto de entrada no concelho, vindo de sul, difere nas duas alternativas propostas. Enquanto que uma acompanha mais de próximo a A3 e vai entrar no concelho, em túnel,  junto ao Alto de Romarigães, a outra proposta leva o TGV mais para Oeste e só entra no município por alturas de S. Martinho de Coura. A partir daqui as duas alternativas fundem-se numa só proposta que, em direcção a Valença, deixa o concelho na zona de Antas, Rubiães.

É precisamente em S. Martinho de Coura, mais concretamente nos lugares de Ribeiro e Cachadas, que o impacto da passagem da linha de alta velocidade se vai fazer sentir com mais intensidade. É que, não se desviando dos aglomerados populacionais ali existentes, o comboio vai levar à frente algumas habitações. Uma das quais, curiosamente, está já à venda.

A linha de alta velocidade vai também passar muito próximo de algumas áreas de património classificado e protegido, caso do Castro de Romarigães, que ficará incluído na área do corredor de segurança com 400 metros de largura que ladeará a  linha e que será, também ele, uma condicionante a projectos futuros. A juntar a isto há ainda algumas zonas onde, e o próprio estudo não técnico o indica, o impacto na paisagem resultante da passagem da linha de alta velocidade vai ser elevado.

Factores que terão de ser devidamente ponderados na escolha do melhor traçado e que, por isso mesmo, devem ser alvo de esclarecimento e discussão. Em Ponte de Lima, a própria Câmara Municipal tomou as rédeas da campanha de informação dos munícipes e está a promover sessões de esclarecimento junto da população. Em Valença foi a própria população, nomeadamente uma associação de moradores de uma das zonas mais afectadas pelas propostas do traçado, que decidiu apresentar uma outra alternativa para a passagem do comboio. E por cá, vamos ficar à espera?

25 novembro 2009

Onde é que eu já ouvi isto?

O Bloco de Esquerda denunciou, aos microfones da Rádio Geice, o “clima de medo, intimidação e insegurança” em que vivem os trabalhadores da Câmara Municipal de Caminha. Um clima que, curiosamente, terá começado logo no dia seguinte às últimas eleições autárquicas, que reconduziram a social-democrata Júlia Paula na presidência da autarquia.

Medo? Intimidação? Humm… tenho uma vaga ideia de já ter ouvido isto noutro lado qualquer, mas não consigo lembrar-me onde foi.

Pois… mas às vezes parece…

O recentemente eleito presidente da Câmara de Valença diz que ficou chocado com uma recente intervenção das autoridades junto do comércio local. E garante que Valença não é o “Far West”. Pois… mas às vezes parece…

23 novembro 2009

Regresso aos anos 80

Na era das novas tecnologias, do digital e da internet, não faltam exemplos de revivalismo. Mas há quem vá mesmo ao exagero de dar vida a uma rádio pirata, bem ao jeito daquelas que pontificaram um pouco por todo o país no final dos anos 80. Carolice, ousadia e algum jeito para a coisa eram os ingredientes obrigatórios a qualquer emissora, a par de uma dose considerável de boa disposição. Até porque um dos objectivos destas emissões piratas era o divertimento dos que lhe davam vida, alguns com uma destreza e um empenho de fazer inveja a muitos profissionais.

Em Ponte de Lima, contudo, parece que uma dupla de aventureiros resolveu reviver esse divertimento e levá-lo mais longe, muito mais longe do que o que a própria lei permite. É que, como se já não bastasse o facto de infringirem a lei com uma rádio pirata, ainda a utilizavam para divulgar corridas ilegais na A27 e A28, bem como alertas aos ouvintes para estes evitarem as operações policiais montadas nas estradas da região.

O botão de “off” chegou este fim de semana, com uma operação da GNR que culminou com a identificação dos dois supostos mentores e dinamizadores da nova estação radiofónica, que era também conhecida por divulgar “mexericos” relacionados com alguns habitantes de Ponte de Lima e arredores. Longe vão os tempos dos panfletos anónimos?

18 novembro 2009

O púlpito não tem partido (2)

01288

Primeiro o apelo ao voto. Depois o apelo à redenção. Um padre de Viana do Castelo está a causar sensação (ou sensacionalismo) junto dos seus paroquianos, que acusa de viverem em pecado. É o que dá a mistura explosiva de religião com política.

Apesar dos apelos do Bispo de Viana do Castelo no Verão, parece que houve quem não o escutasse (e logo quem a isso é suposto estar obrigado) e resolveu trazer para o púlpito as eleições autárquicas. E, não contente com isso, e também com o resultado do acto eleitoral, vá de tornar a vir a terreiro misturar o que não deve ser misturado. É que as pessoas até podem ser crentes, mas nem por isso acreditam em tudo o que lhes aparece à porta. Para ler na Rádio Geice.

17 novembro 2009

Eclipsou-se?

Terá sido da derrota expressiva? Talvez não! O certo é que, ao que parece, de acordo com noticia de hoje da Rádio Geice, ninguém consegue encontrar o único vereador eleito pelo PSD para a Câmara de Monção. De tal forma que o presidente do município, ansioso por começar a trabalhar, já fala em chamar a Polícia Judiciária para encontrar o suposto desaparecido.

Eventualmente, José Emílio Moreira, autarca de Monção que cumpre o seu último mandato, poderá também solicitar aos serviços da PJ alguma ajudinha para encontrar as duas mulheres que foram eleitas na lista socialista candidata ao último acto eleitoral. É que os dois lugares de vereador a tempo inteiro ficaram apenas para o segundo e quarto elementos da lista, ambos homens,  e a mulher que seguia em terceiro ficou sem pelouro. Nada de surpreendente, garante o presidente do executivo, até porque tal cenário já estava previsto antes das eleições. Lei da paridade? Sim, mas só para legislador ver!

16 novembro 2009

Era previsível, não era?

Título de notícia publicada na edição de hoje do jornal Diário do Minho, que dá conta dos “estragos” que a passagem da linha de alta velocidade vai causar na região. Nada que não se previsse, mas como sempre nestas coisas, só quando nos batem à porta é que damos contas delas. A ver vamos se se ficam por aí ou se, com exigências daqui e dali as coisas melhoram.. ou antes pelo contrário.

Assim se vê, a força da TV!

E se de repente uma multidão de visitantes invadisse o seu concelho aos fins de semana isso era… uma novela televisiva. É mais ou menos este o enredo do que se passou em Arcos de Valdevez nos últimos meses, fruto da exposição mediática daquele município na televisão, onde é cenário da telenovela “Deixa que te leve”, da TVI. Quem o garante é o próprio presidente da Câmara Municipal, que se confessa impressionado com o fenómeno do crescimento de visitas àquela vila alto-minhota e ao concelho de um modo geral, a fazer justiça às audiências da própria novela.
Com um investimento de cerca de 60 mil euros, acrescido do necessário apoio logístico, o município arcoense conseguiu publicidade diária em horário nobre em milhares de lares portugueses e, mais importante que isso, obteve um retorno, quase imediato, explica Francisco Araújo, com o aumento do fluxo de turistas que afluíram ao concelho, num movimento que se fez sentir ao longo de todos estes meses.
Números parece que não há, mas há uma certeza, a de que “nunca tanta gente visitou o concelho”, garante o autarca arcoense. Inclusivamente há já roteiros especiais que associam as belezas da região ao enredo da novela. O ideal seria, agora, indagar os comerciantes do concelho e verificar se esse fluxo acrescido de turistas se reflectiu nas contas do estabelecimentos comerciais e de hotelaria no final do mês. Pois que é muito bonito falar de crescimento e afluência de pessoas, mas depois, na prática, há que saber se realmente isso se repercutiu no movimento da caixa.
Sem acesso a números concretos será sempre difícil perceber se o investimento valeu a pena, mas, numa altura em que as televisões parecem ditar, cada vez mais, as modas, será este tipo de associações comerciais entre municípios e estações de televisão uma montra que se fecha com o fim da novela, ou, pelo contrário, foi o abrir de uma porta que agora só tem que se gerir bem para se manter aberta? Veremos nos próximos episódio!

12 novembro 2009

O início do fim de um ciclo

António Esteves

Com a saída de António Esteves da vereação da Câmara Municipal de Paredes de Coura, chega ao fim uma parceria de 12 anos entre aquele professor do ensino primário e o município. Uma parceria onde, sei por constatação própria, deu muito de si a um concelho que defendia com “unhas e dentes” e onde granjeou muitos amigos e, eventualmente, também alguns inimigos.

Os amigos vão, certamente, marcar presença no jantar de homenagem que vai ser levado a efeito amanhã à noite, na EB 2.3/S de Paredes de Coura. Organizado pelo Partido Socialista local, o jantar pretende, e irá consegui-lo provavelmente, ultrapassar as barreiras partidárias. De tal modo que, neste momento, há já vários militantes de outros partidos inscritos, nomeadamente presidentes de junta com quem António Esteves cultivou uma boa relação ao longo destes 12 anos em que ocupou o lugar de vereador.

A não continuação de António Esteves na autarquia courense, a pedido do próprio que optou por se retirar das lides camarárias e dedicar mais tempo à sua vida pessoal e familiar, marca também, quer se queira quer não, o início do fim de um ciclo que culminará com a saída de António Pereira Júnior da presidência da Câmara. É certo que quando António Esteves chegou aos Paços do Concelho já Pereira Júnior por lá andava hás bastantes anos, primeiro como vereador e depois como presidente, mas ninguém pode negar que a imagem de Paredes de Coura que temos actualmente foi construída pelos executivos onde Pereira Júnior e António Esteves formaram a dupla de gestão da autarquia.

Agora, António Esteves afasta-se para os lados de Bico, onde ainda continuará a presidir à Área de Paisagem Protegida. Lá de cima irá, certamente, manter-se atento ao dia-a-dia do concelho.

11 novembro 2009

Regionalização

Nas últimas eleições legislativas, no distrito de Viana do Castelo, os socialistas ganham o distrito com a eleição de 3 Deputados, 2 para o PSD e 1 para o CDS/PP.

Diferenças em Viana do Castelo em relação a 2005, só mesmo nas percentagens. E são reveladoras. Os socialistas ganham o distrito, mas descem 5,7 pontos. O PSD também cai, embora menos (2,2) CDS/PP, BE e PCP/PEV sobem, obtendo 13,6, 8,55 e 4,19. respectivamente.

Mas o Alto-Minho continua esquecido pelos poderes centrais, sem líderes políticos locais fortes com visibilidade que ultrapasse as fronteiras do distrito, vivendo com as “energias” que lhe chegam (cada vez menos) das sobras da Galiza.

A Lisboa, o que continua a chegar de cá, é a eterna cantiga:

O que diz a carta, Senhora Maria?

Que o sol no Alto Minho nasce ao meio dia!

Valença, promovida a cidade, e com o anúncio da construção de uma plataforma logística, muda do PS para o PSD! Dá para entender?

A regionalização é mais que necessária, como necessária é a afirmação de lideranças políticas, económicas e culturais.

Vencer o atraso estrutural da região, sem a danificar, significa adoptar uma visão renovada do espaço e do território, do ambiente e do ordenamento. Quer ao serviço da qualidade de vida dos cidadãos e do desenvolvimento sustentável, quer aproveitando a nossa posição geo-económica como factor de competitividade da economia.

Penso serem quatro os eixos fundamentais em que se articula esta visão:

  1. A sustentabilidade do desenvolvimento, fazendo da protecção do ambiente um elemento integrador de todas as políticas e um factor da própria competitividade do distrito.
  2. Valorização dos centros concelhios (Ponte de Lima/gastronomia e património, Vila Nova de Cerveira/Artes, Melgaço/Termal e cultura castreja, Paredes de Coura/Águas e património natural, etc., etc.) que sejam estruturantes do território, do ambiente, da identidade cultural e da paisagem.
  3. O desenvolvimento rural, compreendendo a política agrícola mas assumindo-se numa perspectiva integrada de preservação do povoamento (acabe-se com os caricatos subsídios de nascimento, distribuía-se em substituição um viagra motivacional para o trabalho), do ambiente, da identidade cultural e da paisagem.
  4. A aposta no distrito, como plataforma atlântica da Europa no noroeste peninsular, em articulação com a Galiza, como base logística da inserção  no espaço europeu.

Por aqui me fico, não sem antes deixar este desabafo: Recentemente, um casal holandês que visitou o distrito, queria saber o destino/produtos finais resultantes da pastorícia do distrito. Não fui capaz de uma explicação concreta, perante a estupefacção dos meus interlocutores!

Manuel Martins 

09 novembro 2009

Municipalismo

Chama-se municipalismo à autonomia administrativa dos concelhos. Com a formação dos concelhos, surgidos muitos deles, incluindo o de Paredes de Coura, nos anos idos de quatrocentos e quinhentos, outorgados em carta de foral pelos reis aos homens bons dos territórios, desejosos de autonomia, e pela qual se obrigavam ao pagamento de impostos, tão necessários para a afirmação do Estado, começa o processo de municipalização, em que a Administração central confere competências às autarquias, entretanto reconhecidas pelos seus poderes de administração e gestão dos espaços públicos.

Com o avançar dos séculos, o municipalismo português foi conhecendo várias caras, umas mais alegres e outras mais tristes, até que, a partir de 1974, começa um novo período. É o tempo do reconhecimento do poder autárquico, em que o município é legitimado pela governação das assembleias de freguesia, da assembleia municipal e da câmara municipal, numa lógica de articulação de competências.

Confessando-me municipalista, ou seja, acredito muito mais no governo da autarquia do que num governo supraconcelhio, a que poderemos chamar uma região, sou adepto da resolução local dos problemas, ainda que reconheça que certas decisões têm de ser concertadas em contextos mais abrangentes. Por exemplo, aceito que os problemas de Paredes de Coura tenham de ser enquadrados no território conjunto dos dez municípios do Alto-Minho, na soberania jurídica de uma comunidade intermunicipal, com este ou com aqueloutro nome, e à falta de melhor os rios parecem ser a solução. Talvez já discorde que os mesmos problemas tenham de passar pelo crivo do território de todos os concelhos situados na região do Entre-Douro-e-Minho ou de uma outra região.

Pelo que somos enquanto nação, sem grandes diferenças culturais e com uma mesma língua, e pelo espaço territorial que habitamos, um minúsculo rectângulo, não se justifica a existência de governos regionais, mais ainda quando a Administração nacional e a Administração local se estendem por espaços exíguos. Uma e outra são formas complementares do serviço público, como se fossem duas faces de uma mesma moeda.

No referendo sobre a regionalização, realizado em 1998, os portugueses votaram a favor do municipalismo, se bem que a pergunta tivesse sido sobre a regionalização, ou de qualquer coisa parecida, dada a confusão das palavras e o emaranhado do enunciado. Há, agora, fervorosos autarcas, parecendo não caber nos seus concelhos, que lutam pela regionalização como quem estivesse a querer outros espaços de decisão e outras formas de uniformização.

Julgo que, enquanto portugueses que somos, chega-nos o governo nacional. Não se torna necessária a regionalização como solução de nova governabilidade dos concelhos, pois isso representaria não só o enfraquecimento do municipalismo, bem como a reprodução dos vícios do poder nacional.

A primeira razão porque sou a favor do municipalismo deve-se à política de proximidade. Quando se está perto das pessoas mais fácil se torna a identificação e resolução dos problemas. Hoje em dia, são inúmeras as vantagens do poder local. A qualidade de vida das pessoas melhorou imenso e se ainda estivéssemos dependentes de um qualquer jogo de xadrez político, em que o rei de Lisboa, ou a rainha do Porto, ou a torre de Viana, ou o cavalo de Braga mandariam mais que o peão de Coura, ou de Monção, ou de Cerveira, tudo estaria diferente, e para bem pior.

Com a transferência de verbas própria do Fundo de Equilíbrio Financeiro, a que se juntam as parcas receitas geradas em território próprio, as necessidades básicas ligadas a indicadores de qualidade de vida têm sido satisfeitas. É gritante a comparação entre o que foi ontem e o que é hoje a vida dos concelhos. Basta olhar à nossa volta e reparar nas infra-estruturas culturais, sociais e económicas.

A incómoda pergunta a fazer talvez fosse esta: por que razão só agora é que as pessoas têm direito a estes serviços?

Uma outra razão diz respeito ao conhecimento directo que os eleitores têm dos candidatos aos órgãos dos municípios. A política local faz-se no tratamento informal, no reino do “tu”, sem precisar das grandes distâncias que as figuras mediáticas gostam de criar. Faz-se, de igual modo, no trato pessoal, na solidariedade, na palavra amiga, enfim, no conhecimento mútuo que há entre quem elege e quem governa. Uma análise exaustiva dos resultados das eleições autárquicas, em Paredes de Coura, poderia revelar o motivo pelo qual o município teve somente dois presidentes de câmara eleitos depois de 1974. E muitos foram os candidatos, sempre derrotados por estes dois presidentes.

Com esta posição não quero dizer que cada concelho se deva fechar sobre si mesmo, ignorando o que se passa à sua volta. As teias dos problemas são demasiado grandes e todos eles acabam por ter consequências idênticas quando não trabalham em conjunto. A cooperação concelhia já se faz a muitos níveis: na gestão dos meios de comunicação, nas infra-estruturas rodoviárias, no tratamento do lixo, na distribuição de água, na exploração eólica, ou seja, em tantos e tantos aspectos que obrigam os concelhos a ter uma só voz para os mesmos problemas.

Alguém pode perguntar: as comunidades intermunicipais não são uma forma de regionalização?

Não, de modo nenhum, são apenas formas de reforço do municipalismo, obrigando os concelhos a dialogar e a responder colectivamente a problemas que são, efectivamente, de todos.

Vamos a mais um exemplo: A Comunidade Intermunicipal do Vale do Minho tem um projecto ambicioso, denominado Minho Digital. Este projecto consiste em dotar os concelhos de infra-estruturas ligadas às novas tecnologias de informação e comunicação, com destaque para a fibra óptica. Seria impensável que tal projecto fosse realizado num qualquer concelho minhoto, tornando-se imperioso que se alargue essa imensa rede que envolve todos os concelhos.

Pensando-se bem nesta cooperação existente, a regionalização torna-se desnecessária, traduzindo-se numa vontade política que serve mais os interesses dos concelhos mais fortes que dos concelhos mais fracos.

Ser a favor do municipalismo, ou a favor da regionalização, não é uma questão meramente territorial. Poderia ser favorável à regionalização se, por mera possibilidade teórica, todos os concelhos de uma região estivessem no mesmo plano de desenvolvimento e com as mesmas potencialidades. Infelizmente, e recordemo-nos da frase lapidar do livro “O Triunfo dos Porcos”, de George Orwell: “Todos são iguais, mas uns são mais iguais que outros”.

Não sei como seria a regionalização pela leitura desta frase, estando convicto que a mesma não pode ser utilizada para a municipalização. Cada concelho luta por si e jamais se pode impor aos outros. Para isso, as regras precisam de ser claras o princípio de subsidiariedade deve funcionar, ou seja, os concelhos com menos possibilidades de desenvolvimento e com receitas mais parcas têm a colaboração dos concelhos mais fortes.

Assumindo-me como municipalista, neste e noutros escritos, gostaria de deixar um alerta como ideia final. O que caracteriza a municipalização é a prestação de um serviço público. Por força de ideias políticas e por razões economicistas, muitos serviços prestados pelas autarquias começam a ser semi-privatizados, através da formação de empresas de capitais públicos e privados.

Quando a economia se sobrepõe como factor único ao nível da resposta pública sabe-se que, invariável e penosamente, os custos sobram sempre para os munícipes.

 

José Augusto Pacheco

As palavras dos outros

Conforme anunciado, o Mais pelo Minho, para comemorar o seu quarto aniversário, abriu as portas à participação de pessoas externas ao blogue, convidando algumas pessoas ligadas a Paredes de Coura a escreverem neste espaço. A partir de hoje começam a ser publicados os artigos daqueles que responderam ao convite.

A eles o meu muito obrigado pela colaboração!

04 novembro 2009

Alhos e bogalhos

Faz-me confusão esta mania que as pessoas têm de misturar coisas que nada têm a ver umas com as outras. Principalmente quando tentam ver questões políticas em todos os sectores de actividade, por mais afastados do espectro  político que estes estejam. Mais confuso fico ainda quando essa associação errada é feita pelos próprios intervenientes, como se eles próprios não tivessem consciência de que é possível fazer algo à parte dos interesses políticos.

Vem isto a propósito das notícias vindas a público recentemente, que dão conta do desagrado de dois dirigentes associativos locais que, tendo em conta o resultados das eleições do passado dia 11 de Outubro, acham que, por terem sido preteridos nas urnas, agora devem abandonar as funções que desempenham nas colectividades locais. Veja-se, por exemplo, o caso de Albano Sousa, presidente da Associação de Castanheira, instituição a que tem dado muito de si próprio, desenvolvendo um trabalho meritório e reconhecido a vários níveis. Fará sentido extrapolar os resultados das autárquicas, em que concorreu como número dois do PSD à Câmara, e dizer que, ao não lhe dar a vitória nas urnas, a população está a dizer que também não aprecia o trabalho dele no Castanheira? Claro que não!

A meu ver, e com o devido respeito que Albano Sousa me merece, estamos perante um caso flagrante de mau perder, ainda que o próprio não o admita. Só desta forma se justifica que se faça depender coisas tão distintas uma da outra. Visto de outra forma, dá a impressão, errada quero crer, que Albano Sousa só se manteve no Castanheira até agora porque achava que teria algo a ganhar com isso numa eventual candidatura partidária. Sei que não foi isso que aconteceu, por isso não faz sentido querer ligar as duas coisas. Albano Sousa tem todo o direito de estar magoado com os seus conterrâneos, mas não pode esperar que, por estes acharem que ele é a melhor opção para a associação local, vão também entender, necessariamente, que Albano Sousa é o homem indicado para a Câmara. Mais, Albano Sousa tem de entender, também, que não concorria sozinho e que os eleitores, para votarem nele, teriam igualmente de aprovar o resto dos elementos que faziam equipa com ele. Provavelmente não aprovaram…

O pior, nisto tudo, é que com estas confusões entre política e associativismo, eventualmente irá perder-se um homem que deu  e ainda tem muito para dar a uma colectividade que foi criada e mantida à sua imagem e semelhança. Sem Albano Sousa a Associação de Castanheira irá continuar, quero acreditar, mas, como diz o anúncio da televisão, não vai ser a mesma coisa.

03 novembro 2009

A escrever desde 2005…

Foi a 3 de Novembro de 2005 que surgiram as primeiras linhas do Mais pelo Minho. De então para cá, o Mais pelo Minho não tem parado, cumprindo plenamente a missão com que o idealizei: ser um espaço de opinião.

Não há dias certos para escrever. Escreve-se quando surge a inspiração, quando surge o assunto, quando surge o interesse. Não há dias certos para escrever, o que é preciso é escrever. E continuar a escrever. Sobre Paredes de Coura, sobre toda esta região onde estamos inseridos.

Os que me conhecem sabem que, para mim, escrever é um vício. Sabem o quanto me custou abrir mão de um percurso profissional de mais de uma década no jornalismo, primeiro a nível regional, depois a nível nacional, em nome de valores mais altos que se me apresentaram. Sabem, contudo, que o “bichinho” não morreu e que o Notícias de Coura, na sua fase inicial, e o Mais pelo Minho, depois, ajudaram a manter vivo este gosto pela escrita.

E é com gosto e dedicação que vou continuar a dar vida a este blogue. Mesmo que tal me custe algumas noites com menos horas de sono. Mesmo que para isso tenha de continuar a ignorar os muitos insultos anónimos que fazem questão de me oferecer. Tudo isso é facilmente ultrapassado pela satisfação de poder escrever, usufruindo de uma liberdade de expressão que Portugal soube conquistar há 35 anos!

Aos leitores do Mais pelo Minho deixo aqui uma palavra de agradecimento. Obrigado por passarem por cá, por deixarem o seu contributo. A pensar neles, e de forma a assinalar mais um aniversário do blogue, convidei algumas pessoas externas ao Mais pelo Minho a darem o seu contributo e a publicarem aqui um artigo da sua autoria. Durante esta semana, e eventualmente na próxima, procurarei colocar online estas colaborações que agradeço respeitosamente.

 

Paredes de Coura, 3 de Novembro de 2009

 

Eduardo Bastos

Deixar a casa desarrumada

30062009151

As eleições têm destas coisas: uns ganham, outros perdem. É o normal! A transição entre vencidos e vencedores nem sempre é pacífica, nem sempre é feita da melhor forma e, algumas vezes, surgem umas surpresas que estragam a festa da vitória. Foi o que aconteceu em, pelo menos, duas freguesias de Paredes de Coura, com os novos titulares da presidência a ficarem de queixo caído face ao cenário deixado pelos seus antecessores.

As duas freguesias mudaram de cor nas últimas autárquicas e, apesar da mudança, continuam as duas a ser de cores políticas diferentes. A mudança de partido não é (não pode ser)  justificação para atitudes que, além de em nada dignificarem quem ocupou o lugar de presidente até 11 de Outubro último, vão dar muitas dores de cabeça aos novos titulares daquele cargo.

Imagine-se o que é chegar à presidência da junta de freguesia e descobrir que nos próximos meses (e não serão poucos) não vai haver dinheiro para fazer rigorosamente nada, incluindo pagar o ordenado ao funcionário que a autarquia tem ao seu serviço. E descobrir que, num único dia, curiosamente a poucos dias das eleições, o antigo presidente da junta emitiu qualquer coisa como mais de trinta cheques, sabendo de antemão que não havia dinheiro para os pagar, nem agora nem nos próximos meses, hipotecando desde logo qualquer hipótese de iniciativa que o seu sucessor pudesse vir a ter. Não é ficção, aconteceu mesmo numa freguesia de Paredes de Coura, numa atitude que, pelo menos eticamente, é totalmente reprovável e só vem dar razão àqueles que dizem cobras e lagartos da forma como são geridas as  finanças das autarquias locais.

Noutra freguesia, mais serrana mas nem por isso mais serena, o caso não assume tamanhas proporções, mas ainda assim o novo presidente da Junta já veio a terreiro defender a realização de uma auditoria às contas do anterior executivo. Haverá suspeitas de má gestão? Certamente. Terão fundamento? A auditoria, se realmente avançar, poderá ajudar a demonstrá-lo.

Situações como estas, infelizmente, não são novidade. Não em Paredes de Coura, muito menos no resto do país. Os novos titulares dos cargos públicos desconfiam muito dos seus antecessores, especialmente se estes forem de partido diferente. Veja-se o que acontece aqui ao lado, em Valença, em que o novo presidente da Câmara também já admitiu ir ver à lupa as contas deixadas pelo anterior titular do cargo. Infelizmente, as notícias de todos os dias, ajudam quem pensa assim. Os casos de má gestão e, pior, de corrupção, dominam a actualidade noticiosa e, sempre que há mudanças paga o justo pelo pecador. E, é certo, em muitos casos, o pecado existe mesmo… até na casa do justo!