Isto de estar de férias tem destas coisas. Uma pessoa desliga-se do mundo e quando retoma a ligação fica a saber que o Festival de Paredes de Coura tem os dias contados. Pensei que era brincadeira, mas foi mesmo verdade: a Ritmos tinha estado numa reunião de Câmara a lamentar os maus resultados dos últimos festivais e equacionava acabar com aquele evento ou realizá-lo noutras paragens.
O Coura chega a falar em chantagem, mas sabemos como o Coura costuma exagerar. Mas depois de ler a acta da Câmara, tenho de admitir, fica-se mesmo com essa impressão, de que se está a fazer um ultimato do género: ou aumenta a comparticipação do município (não apenas da câmara, refira-se) ou o festival vai para longe daqui.
Para mim, que não conheço as contas do festival, deste ou dos anteriores, é uma situação plausível. Aliás, já antes, quando escrevi sobre o festival, elementos da Ritmos me disseram que o panorama dos festivais em Portugal estava muito mau. Exemplo disso, terá sido, aliás, o fim do CBT Dance Festival, que a Ritmos organizou em Celorico de Basto e depois tentou mudar para Esposende, já devido aos maus resultados obtidos naquele concelho do interior, mas que também não chegou a vingar ali.
Mas depois vemos também as notícias de que a última edição do Festival de Paredes de Coura (como 2004) foi um sucesso, mais de 20 mil pessoas por dia, tudo a exceder as expectativas da organização e ficamos na dúvida. Ainda para mais quando, de outros festivais, nomeadamente do Sudoeste, os ecos são semelhantes. Em que ficamos: o festival foi um sucesso, mas perdeu-se dinheiro? Então foi um sucesso de quê? Se excedeu as expectativas estava condenado a dar prejuízo à partida, como aconteceu com Vilar de Mouros?
É por estas e por outras semelhantes que as pessoas torcem o nariz e depois especulam sobre as capacidades financeiras do Festival e da sua organização. Como disse, desconheço as contas e não tenho de as conhecer no total, muito embora faça parte do leque daqueles que defende que quem recebe dinheiros públicos tem de os justificar perante o público, mas com 100 mil euros muito pouco se fará num festival de milhões. O Sudoeste, por exemplo, custou cerca de 3 milhões de euros, um quarto dos quais pago pelos patrocínios. Num total como este, os 100 mil da Câmara são chuva míuda, mas, repito, devem ser explicados.
Prefiro, por isso, recordar as palavras da organização do Festival de Paredes de Coura no seu site oficial: "desde o início, o Festival procurou sempre contrariar as visões fatalistas de uma juventude impotente. Somente pretendia, apenas, declinar a ideia de que a interioridade era sinónimo de lamentação e argumento justificativo da derrota fácil." Assim sendo, não creio que seja, e espero que não seja, agora a altura de desistir.
E depois, vejam lá, como é que podiam fazer Paredes de Coura noutro lugar? Então como é que faziam para levar o Coura (o rio, entenda-se) para outras paragens? E o ambiente bucólico do Taboão que tanto dinheiro tem custado à autarquia, como é que ficava, depois, sem utilização? E aqueles recantos e encantos únicos que ajudam a fazer do festival um dos melhores a nível internacional?
Não, acho que o problema do Festival não é o dinheiro. O problema será, talvez, a mentalidade daqueles a quem custa acreditar que o Festival são só custos e nenhuns proveitos. Não ficava nada mal, por exemplo, admitir que o festival dá, ou pelo menos deu, dinheiro. Se calhar até era mais fácil conquistar novos apoios a nível local, muito embora tenha quase a certeza que eles vão surgir de modo a garantir por aqui a realização do festival.
PS: A própósito de contas, gostei muito de ficar a conhecer as contas das Festas do Concelho. Só que entre os quase 25 mil euros do fogo e os 11 mil euros que a Ruth Marlene levou para a casa, fiquei na dúvida de qual tinha gostado mais.
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