24 março 2011

Demissão = solução?

O primeiro-ministro apresentou ontem a demissão. A ver bem, a sua demissão foi oficializada a 27 de Setembro de 2009, quando o seu partido ganhou as eleições legislativas… sem maioria. Ao aceitar governar em minoria, numa altura em que o papão da crise global já estava à espreita, mau grado a baixa de impostos pré-eleitoral, José Sócrates tinha o destino traçado e, certamente, sabia-o. Num período em que eram necessárias (continuam a ser) medidas drásticas e difíceis de aplicar para tentar reduzir o défice e endireitar as contas públicas, não ter uma maioria no Parlamento é meio caminho andado para uma gestão complicada, obrigado a seguir as directrizes dos outros, por muito que sejam diferentes daquelas que o Governo defende. E quando o maestro tem de se resignar à música que a orquestra toca, mesmo não sendo aquela que ele tem na pauta, o caminho está traçado.

O primeiro-ministro apresentou ontem a demissão. E o passo seguinte, mais que certo e mais que desejável, são novas eleições legislativas. O Presidente da República ainda nada disse, por uma questão de agenda europeia, mas todos os partidos da oposição já o afirmaram: não estão disponíveis para formar Governo com José Sócrates. Nunca estiveram, aliás. E nem sequer o PS minoritário de José Sócrates logrou tentar uma aproximação à esquerda ou à direita para enveredar pelo caminho de uma coligação, no rescaldo das legislativas de 2009. O feitio característico do primeiro-ministro, num misto de teimosia e arrogância, regada com um toque de “eu é que sei de que o país precisa” nunca foram bons argumentos para uma negociação a duas ou mais vozes e não se prevê que o seja agora, depois de uma demissão forçada, por ele e pela oposição, que inevitavelmente vai deixar marcas no meio político português. Com eleições, e resultados, mais ou menos previsíveis no cenário de alternância política da democracia portuguesa, caberá à direita liderar esse entendimento. A solo ou em duo? O povo decidirá lá para Junho.

O primeiro-ministro apresentou ontem a demissão. E o país perdeu. Não no sentido que apontou ontem José Sócrates, mas perdeu. Fica mergulhado numa crise política, que o é, numa altura em que a crise económica já afogava a população. Os juros não esperaram e subiram ainda mais. Vem aí o FMI? Talvez. Talvez já cá esteja. Vêm aí tempos mais difíceis? Não duvido. Não é por haver eleições e mudar o Governo que as coisas vão mudar. A crise continuará e as respostas para ela continuarão a ser de uma urgência e necessidade atroz. As medidas de combate, se não as mesmas, não serão muito diferentes e já hoje, no dia que se segue ao pedido de demissão, aqueles que ontem criticavam o aumento de impostos vêm falar num provável aumento do IVA. Pior será quando chegarem a S. Bento e verificarem que o cenário é ainda pior do que imaginaram e que afinal, tal como José Sócrates no passado, vão ter de esquecer as promessas eleitorais e trabalhar com o país real.

O primeiro-ministro apresentou ontem a demissão. E há muita gente feliz. Poucos minutos depois do anúncio que já não o foi porque o Presidente da República não deixou, assim ao estilo de “cheguei primeiro e estraguei-te a surpresa”, já circulava uma SMS anónima a convocar os portugueses para uma manifestação espontânea de regozijo no Marquês de Pombal. Mas festejar o quê?

O primeiro-ministro apresentou ontem a demissão. O país vai ficar quase parado durante três meses, ou mais. Quase… Os projectos que estavam em banho-maria vão acabar por queimar. Ideias e projectos ficam congelados até que o novo Governo tome posse. Mas, à semelhança do que aconteceu em episódios semelhantes no passado, a máquina não pára. As nomeações não vão, certamente, abrandar e há negócios que, mesmo em tempos de Governo de gestão, conseguem ver a luz do dia. Sem consequências, como se tem visto.

O primeiro-ministro apresentou ontem a demissão. A crise acaba amanhã? Infelizmente não!

1 comentário:

  1. Vamos todos ter que apertar ainda mais o cinto!!!! aqueles que ainda têm buracos para apertar.....
    Ai vem ,vem, o FMI já está à porta....

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