02 janeiro 2009

O rádio do vizinho de baixo

Noite de passagem de ano em Paredes de Coura. A caminho do Centro Cultural para assistir ao fogo de artifício que assinalou a meia-noite por cá, deparo-me com um cadeado a fechar a porta da única unidade hoteleira da vila. Situação estranha, pensei eu, sabendo de antemão que há muitas pessoas que vêm de fora para passar o ano a Coura e, à falta de casa de familiares onde ficar, escolhem a Albergaria para passar a noite. Mas, era noite de fim de ano e não liguei.
No dia seguinte voltei a passar no mesmo local e o cadeado mantinha-se, sinal de que, efectivamente, ninguém, ali teria pernoitado. A minha estranheza voltou, mas ficou tudo esclarecido pouco depois, quando, numa conversa num café da vila, fiquei a saber que, ao que parece, o proprietário decidiu não aceitar reservas para a noite de fim de ano para não prejudicar os clientes… por causa do barulho do vizinho de baixo, a discoteca que começou a funcionar em 2008. Então, perguntei eu, não tinha sido feita uma inspecção técnica para verificar as condições de acústica e o nível de ruído daquele estabelecimento de diversão? E a licença de funcionamento emitida pela Câmara não estava condicionada aos resultados dessa inspecção? Ora, se assim é, e uma vez que a discoteca está a funcionar, então é porque a inspecção assim o atestou, não? A isto, contudo, o meu companheiro de mesa neste primeiro café do ano, não soube responder, simplesmente porque os resultados da vistoria são desconhecidos.
Realmente, pensei cá para comigo, a última coisa que se ouviu sobre este assunto foi aquando da emissão da licença camarária, em pleno pico do Verão, condicionada aos resultados de uma vistoria técnica, resultados esses que eram desconhecidos à data da reunião camarária que decidiu emitir a licença. Ou seja, para não perder tempo a Câmara atribuiu a licença de funcionamento à discoteca, mas esta só seria válida se os resultados da inspecção fossem consentâneos com os limites de ruído impostos pela legislação. O certo é que os resultados dessa fiscalização nunca foram divulgados e não são conhecidos do público, ao contrário das queixas de vários clientes da residencial que, depois de uma noite mal dormida, não hesitaram em queixar-se do elevado ruído originado pelo funcionamento da discoteca por debaixo dos quartos. Os resultados não terão sequer chegado aos vereadores que aprovaram a emissão da licença condicionada. No entanto, basta passar pelos arredores da discoteca numa noite em que esta se encontre a funcionar, para perceber que facilmente a música inunda os quartos da unidade hoteleira.
Ficamos, por isso, sem entender como é que a licença emitida pela Câmara se mantém em vigor. E há mesmo quem questione se alguma vez houve condições para que ela tenha sido emitida. Eu, à falta de conhecimento dos resultados da inspecção, continuo a dizer que o sono de uns não pode ser prejudicado pela diversão de outros.

1 comentário:

  1. Posso testemunhar o seguinte:
    1 – O barulho da tal discoteca é de tal ordem que é impossível dormir na Albergaria;
    2 – Com a música aos altos berros as paredes da Albergaria abanam e oscilam, mesmo no andar cimeiro.
    3 – Quando esteve em Coura a delegação francesa de Cenon, que ficou hospedada na Albergaria, o sr. Pereira Júnior foi pedir aos donos da discoteca para nessa ocasião «terem em atenção, coisa e tal, não façam barulho, vão cá estar hóspedes de importância, não ponham a música alta, etc.»
    4 – E na realidade nessa ocasião dormiu-se que nem um anjinho – eu estava também hospedado na Albergaria e sei disso.
    5 – E o resto do ano? E os outros clientes? Para eles não há pedido especial do sr. Presidente? Dois pesos, duas medidas? Compadrio e protecção para alguns e barulho e insónias para outros?
    Uma coisa digna do terceiro-mundo!

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